ISSN: 1679-4427 | On-line: 1984-980X

Inteligência emocional no contexto universitário: uma revisão de escopo

Emotional intelligence in the university context: a scoping review

La inteligencia emocional en el contexto universitario: una revisión del alcance

Angellica Fernandes de Oliveira1; Samira Reschetti Marcon2; Moisés Kogien3; Marina Nolli Bittencourt4; Kamila Ramos Leones5

DOI: http://www.dx.doi.org/10.5935/1679-4427.v15n28.0009

1. Enfermeira, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá - MT. Endereço eletrônico: enfangellica@gmail.com
2. Enfermeira, docente do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá -MT
3. Enfermeiro, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá – MT
4. Enfermeira, docente do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá – MT
5. Enfermeira, docente da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade do Estado de Mato Grosso, Cáceres – MT

Resumo

O objetivo desse estudo foi mapear as evidências sobre as intervenções de inteligência emocional para universitários. Trata-se de uma revisão de escopo orientada pelas diretrizes do Joanna Briggs Institute e realizada em oito repositórios distintos. Foram selecionados e analisados materiais bibliográficos que apresentaram a inteligência emocional em universitários. Foram incluídos nesta revisão de escopo 17 materiais bibliográficos, todos caracterizados como artigos originais. Mesmo as intervenções apresentando características distintas, todas tiveram desfechos positivos. Os resultados apontam para a necessidade de se elaborar novas propostas de intervenções que abordem a inteligência emocional para universitários, com o objetivo de mitigar lacunas existentes e abordadas identificadas nesta revisão, e proposição de intervenções padronizadas e eficazes.

Palavras-chave: Revisão. Inteligência Emocional. Estudantes.


Abstract

The objective of this study was to map the evidence on emotional intelligence interventions for university students. This is a scoping review guided by the Joanna Briggs Institute guidelines and carried out in eight different repositories. Bibliographic materials that presented emotional intelligence in university students were selected and analyzed. 17 bibliographic materials were included in this scoping review, all characterized as original articles. Even though the interventions had different characteristics, they all had positive outcomes. The results point to the need to develop new intervention proposals that address emotional intelligence for university students, with the aim of mitigating existing and addressed gaps identified in this review, and proposing standardized and effective interventions.

Keywords: Review. Emotional Intelligence. Students.


Resumen

El objetivo de este estudio fue mapear la evidencia sobre intervenciones de inteligencia emocional para estudiantes universitarios. Esta es una revisión de alcance guiada por las directrices del Instituto Joanna Briggs y realizada en ocho repositorios diferentes. Se seleccionaron y analizaron materiales bibliográficos que presentaban la inteligencia emocional en estudiantes universitarios. En esta revisión de alcance se incluyeron 17 materiales bibliográficos, todos caracterizados como artículos originales. Aunque las intervenciones tuvieron características diferentes, todas tuvieron resultados positivos. Los resultados apuntan a la necesidad de desarrollar nuevas propuestas de intervención que aborden la inteligencia emocional de los estudiantes universitarios, con el objetivo de mitigar las brechas existentes y abordadas identificadas en esta revisión, y proponer intervenciones estandarizadas y efectivas.

Palabras clave: Revisión. Inteligencia Emocional. Estudiantes.

 

INTRODUÇÃO

A inteligência emocional (IE), termo cunhado por Salovey e Mayer (1990) e popularizado pela obra Emotional Intelligence, de Daniel Goleman (1995), é definida como a capacidade de processar informações emocionais de forma eficiente a partir de processos mentais de reconhecimento e regulação, com o uso adaptativo das emoções próprias e alheias (Salovey e Mayer, 1990). Tem ganhado cada vez mais notoriedade pela comunidade científica, principalmente, por ser um fator que contribui positivamente para conquistas na vida pessoal, perseverança na vida e sucessos profissional e acadêmico (Hamdzah et al., 2016).

Estudos têm apontado uma estreita relação entre IE e desempenho acadêmico (Quílez-Robres et al., 2023). A IE é um facilitador dos processos mentais, da concentração e do autocontrole em contextos estressantes, como a formação universitária (Puertas-Molero et al., 2020) o que potencialmente pode propiciar melhores indicadores de desempenho acadêmico e diminuição do fracasso escolar (Quílez-Robres et al., 2023). É considerada o terceiro preditor mais importante no desempenho acadêmico depois da inteligência e da consciência (Maccann et al., 2020) e é uma habilidade crucial para os estudantes manterem uma saúde mental ideal durante seus estudos (Mohamed et al., 2022).

O modelo de IE proposto por Goleman (1995) pauta-se no desenvolvimento de cinco competências: autoconsciência, empatia, autocontrole, automotivação e sociabilidade. A forma mais eficaz de desenvolver essas competências é por meio de medidas que auxiliem o indivíduo a resolver seus conflitos de forma mais positiva, como por exemplo, programas experimentais ou de intervenção (Goleman, 1995).

No âmbito da formação universitária programas de intervenção voltados à promoção da saúde mental de estudantes devem considerar a influência da IE e a sua relevância no processo de adaptação à universidade (Martínez-Monteagudo et al., 2020). A entrada na universidade envolve mudanças no estilo de vida que pode alterar os padrões de funcionamento da saúde mental dos estudantes, o que afeta negativamente o seu desenvolvimento cognitivo, emocional e social (Limone e Toto, 2022). Diante do impacto da adaptação no ensino universitário torna-se importante intervir sobre essa fase, a fim promover a saúde mental desses estudantes (Faria et al., 2021).

Considerando que não há produção de saúde sem produção de saúde mental, é preciso que as intervenções ou programas experimentais englobem as dimensões biológica, psíquica e social dos indivíduos (Brasil, 2014) e sejam direcionadas para fortalecer e potencializar os processos saudáveis de reconhecimento e empoderamento das emoções, pensamentos e reações comportamentais (Braga et al., 2011), processos esses que podem ser facilitados com o aprimoramento da IE.

Frente a isto, a realização de uma revisão de escopo a fim de se investigar as intervenções já utilizadas que abordem a inteligência emocional no contexto universitário permitirão conhecer as melhores estratégias direcionadas a essa população, e elucidar as lacunas existentes na literatura para que estudos futuros, que se proponham a elaborar intervenções de promoção da saúde mental à luz da inteligência emocional à universitários, sejam informadas pelas melhores evidências. Para tanto, o objetivo deste estudo é mapear as evidências sobre as intervenções de inteligência emocional para universitários.

 

1 MÉTODO

Esta revisão de escopo foi desenvolvida com base na abordagem metodológica proposta por Joanna Briggs Institute (JBI) (PETERS et al., 2020) e recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses Extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR) (Tricco et al., 2018). A revisão de escopo é capaz de fornecer uma visão geral sobre o tema investigado sem, necessariamente, avaliar a qualidade dos estudos (Lockwood et al., 2020).

Para definição da questão de pesquisa foi utilizada a estrutura mnemônica PCC (População, Conceito e Contexto), elaborando-se a seguinte pergunta: Quais os estudos de intervenções disponíveis na literatura que abordam a inteligência emocional em estudantes universitários? Assim sendo, População (P): estudantes universitários em qualquer nível de formação; Conceito (C): intervenções e; Contexto (C): empregadas no âmbito da inteligência emocional.

A fim de definir a estratégia de buscas, realizou-se sondagem genérica preliminar para mapeamento dos principais descritores e sinônimos frequentemente utilizados em estudos sobre inteligência emocional em universitários. Foram escolhidas duas bases de dados para esta etapa devido, principalmente, sua ampla cobertura de periódicos na área de saúde mental (SCOPUS), bem como, disponibilidade de estudos publicados originalmente em português ou espanhol (LILACS). Todos os descritores e/ou palavras-chave recuperados foram agrupados para formar uma estratégia de busca mais abrangente e uma nova sondagem, utilizando esta estratégia ampliada, foi realizada nas bases de dados SCOPUS e LILACS, acrescentando-se buscas na Pubmed/ Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (Medline), Web of Science, Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), PsycInfo da American Psychological Association e nos repositórios de literatura cinzenta Open Access Thesis and Dissertations (OATD) e Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (BDTD-CAPES). As estratégias de busca finais e o número de materiais recuperados estão presentes na Tabela 1.

 

 

Ao final, foi realizada a busca manual na lista de referências dos artigos recuperados com a finalidade de localizar algum estudo de interesse que não tenha sido recuperado a partir das bases de dados revisadas.

Em relação aos critérios de elegibilidade, consideraram-se artigos, teses ou dissertações que tenham avaliado intervenções que abordaram a inteligência emocional em estudantes universitários, não sendo estabelecidas restrições temporais ou geográficas para seleção dos estudos. Foram incluídos materiais publicados em português, inglês ou espanhol. Foram excluídos artigos teóricos que apenas refletiam sobre a inteligência emocional em universitários e estudos que não apresentaram dados originais (livros, estudos de casos, relatos de experiências ou resenhas) pelo potencial de gerar informações incompletas e imprecisas sobre as intervenções realizadas.

As buscas, seleção de evidências e o processo de extração de dados foi realizado entre fevereiro e março de 2023. Todas essas etapas foram realizadas por dois revisores atuando de maneira independente, e posteriormente comparadas. A seleção de estudos encontrados seguiu estratégia de duas etapas, verificando-se a elegibilidade inicial a partir da leitura de títulos e resumos e, posteriormente, a elegibilidade confirmada a partir da leitura do texto integral. As discordâncias, em quaisquer etapas, foram tratadas por consenso entre os revisores principais. O gerenciamento das referências foi realizado por meio do softwareEndNoteX7®. O processo de busca e seleção de estudos seguiu as recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and MetaAnalyses (PRISMA) (Figura 1).

 


Figura 1. Fluxograma do processo de buscas e seleção de materiais da revisão. Cuiabá, MT, Brasil, 2023. Fonte: Elaboração dos autores (2023).

 

Foram recuperadas 173 publicações provenientes das seguintes bases: SCOPUS (n = 56), PsycInfo (n = 24), Web of Sciences (n = 61), PubMed/Medline (n = 15) e CINAHL (n = 11), BDTD-CAPES (n= 04) e OATD (n = 02). Com a aplicação dos critérios de elegibilidade inicial foram excluídos artigos duplicados (n = 16) e que não passaram na triagem de títulos e resumos (n = 134). Foram selecionadas 23 publicações para leitura do texto integral. Deste subtotal, um artigo foi excluído pela intervenção não ter sido realizada com estudantes universitários e os outros cinco foram excluídos por não avaliarem o antes e depois de uma intervenção de inteligência emocional. Por fim, foram selecionados 17 materiais para inclusão nesta revisão.

Esses dados extraídos foram compilados em planilhas do software Microsoft Excel® e incluíram as principais características bibliográficas e metodológicas dos estudos selecionados (autor(es), ano de publicação, título, periódico, tipo de publicação e país) bem como, características referentes às intervenções (objetivo, teoria abordada e seu autor, tipo de material utilizado na intervenção [material digital, impresso, entre outros], tamanho amostral, tempo de exposição a intervenção e forma de aplicação da intervenção).

Os dados foram analisados de maneira quantitativa apresentando-se as frequências absoluta e relativa de ocorrência das principais características compiladas. Em relação à apresentação dos resultados, nesta revisão de escopo, eles foram apresentados em forma de quadro sintético e em formato descritivo conforme orientações do protocolo PRISMA – extensão para revisão de escopo (Gaiotto et al., 2021). Além disso, produziu-se uma síntese narrativa das características bibliográficas e metodológicas dos estudos selecionados, bem como, das intervenções encontradas, visando descrever o mapeamento de evidências encontradas acerca deste panorama.

 

2 RESULTADOS

Foram incluídos nesta revisão de escopo 17 materiais bibliográficos, todos caracterizados como artigos originais. Considerando o ano de publicação, apesar de um artigo datar de 2009 e outro de 2012, a maior proporção de materiais foi publicada após o ano de 2016 (88,2%). Em relação a localização dos estudos, tiveram origem em dez países distintos, sendo a Espanha o país que mais produziu sobre a temática, responsável por 35% dos artigos recuperados (Tabela 2).

 

 

Dois artigos (11,76%) trouxeram intervenções com tempo de aplicação de um ano (Karahan e Yalcin, 2009; Deighton et al., 2019), 11 estudos (64,70%) tiveram entre um a seis meses de exposição, e os demais (17,64%) variaram entre 20 a 36 horas.

Com relação a teoria abordada, sete estudos (41,17%) especificaram qual delas foi utilizada para embasamento da intervenção (Karahan e Yalcin, 2009; Pool e Qualter, 2012; Gendron et al., 2016; Cecchini et al., 2019; Suárez e Marrero, 2020; Caballero-García e Sánchez Ruiz, 2021; Schoeps e Barrera, 2019). Desses, somente quatro utilizaram teorias específicas da inteligência emocional: inteligência emocional por diversos autores (Karahan e Yalcin, 2009), inteligência emocional por Salovey e Mayer (Pool e Qualter, 2012; Schoeps e Barrera, 2020), inteligência emocional por Daniel Goleman (Cechini et al., 2019). Os outros estudos apresentaram teorias diversas, algumas vezes abordaram mais de uma no mesmo estudo: teoria educacional e teoria dos recursos humanos (Gendron et al., 2016), psicologia positiva (Gendron et al., 2016; Suárez e Marrero, 2020), teoria da autodeterminação, autoconsciência, esperança, mindfulness e do fluxo (Wang e Lu, 2021).

Em se tratando das intervenções testadas, as que mais se destacaram foram as realizadas através de palestras e capacitações, presentes em seis estudos (41,17%) (Pool e Qualter, 2012; Kuk e Guszkowska, 2019; Cechini et al., 2019; Sultan et al., 2020; Seppälä et al., 2020; Mohamed et al., 2022; Karkada et al., 2022); seguido dos materiais digitais (23,52%) (Suárez e Marrero, 2020; Moreno-Fernandez et al., 2020; Karahan e Yalcin, 2019); oficinas (17,64%) (Pool e Qualter, 2012; Kuk e Guszkowska, 2019; Kuk et al., 2021); técnicas de relaxamento/ dramatização, mindfulness e yoga (17,64%) (Sultan et al., 2020; Karahan e Yalcin, 2019); dinâmicas (11,76%) (Karahan e Yalcin, 2019); atividade física (11,76%) (Cechini et al., 2019; Karahan e Yalcin, 2019); workshop (5,88%) (Gendron et al., 2016); atividade em grupo (5,88%) (Sultan et al., 2020) e coaching (5,88%) (Karahan e Yalcin, 2019). Um deles não descreve especificamente o que continha o programa, apenas afirma se tratar de um treinamento de habilidades de inteligência emocional empregando uma perspectiva cultural turca (Karahan e Yalcin, 2019).

A maioria dos estudos (58,82%) trouxe propostas de intervenções com somente uma técnica proposta. Três dos artigos elencados (17,64%) apostaram em duas formas de abordar a temática pretendida, como a capacitação sobre inteligência emocional e a realização de atividade física (Cechini et al., 2019), palestras e tutoriais sobre a inteligência emocional (Karahan e Yalcin, 2019) e caminhada juntamente com a orientação sobre a inteligência emocional (Karahan e Yalcin, 2019). Os demais estudos (11,76%), utilizaram mais de quatro técnicas conjugadas para buscar atender o objetivo proposto (Sultan et al., 2020; Karahan e Yalcin, 2019).

Quando se trata dos resultados obtidos com as intervenções propostas, todas elas apresentaram diferença significativa no pós-teste. No programa de treinamento de habilidades de inteligência emocional empregando em uma perspectiva cultural turca, o grupo intervenção teve melhores pontuações em comparação com o grupo controle, e essas pontuações permaneceram melhoradas seis meses após o término do programa (Karahan e Yalcin, 2019). Com o uso de palestras e oficinas foi possível aumentar a autoeficácia emocional e alguns aspectos da capacidade de inteligência emocional (Pool e Qualter, 2012). Os workshops melhoraram o bem-estar e contribuíram para o desenvolvimento pessoal holístico (Gendron et al., 2016). As oficinas psicológicas foram eficazes para incutir o senso de significado da vida em estudantes universitários, especialmente os do primeiro ciclo; e produziram mais benefícios para alunos com saúde mental prejudicada e com menos competências emocionais (Kuk e Guszkowska, 2019); houve um aumento mais expressivo na compreensão das emoções e menor na empatia (Kuk et al., 2021).

A intervenção de apoio com mensagens de texto ajudou a melhorar a frequência, as notas médias e as taxas de progressão dos alunos do primeiro ano de graduação (Deighton et al., 2019). Com as capacitações ocorreram melhorias na atenção plena dos universitários (Karahan e Yalcin, 2019); gerando um impacto positivo em todas as variáveis que medem a autorregulação e níveis de atividade física vigorosa durante tempo de lazer (Cechini et al., 2019); afetando o crescimento das habilidades da inteligência emocional dos estudantes (Karahan e Yalcin, 2019). Outras capacitações, unidas a algumas técnicas cognitivas e comportamentais, reduziram o nível de estresse e aumentaram a inteligência emocional entre eles (Sultan et al., 2020).

O coaching trouxe melhora na autoconsciência, auto-eficácia, aprendizagem motivacional e inteligência emocional (Karahan e Yalcin, 2019). O protocolo de intervenção combinado com a consciência da inteligência emocional, e moderado exercício físico (caminhada rápida), apresentou melhora significativa nas notas acadêmicas (Karahan e Yalcin, 2019). Um programa baseado em mindfulness, yoga, psicologia positiva e inteligência emocional melhorou os estados e habilidades de saúde e bem-estar entre estudantes músicos do ensino superior (Karahan e Yalcin, 2019). As dinâmicas proporcionaram resultados significativamente mais altos em relação a criatividade e satisfação com a vida em mulheres, que continuaram a alcançar altos resultados após a intervenção (Karahan e Yalcin, 2019). Outras dinâmicas somadas a outras técnicas como relaxamento e dramatização, aumentou significativamente a inteligência emocional, a empatia, o humor positivo, e o bem-estar subjetivo (Karahan e Yalcin, 2019).

O uso de material digital composto por atividades positivas como saborear, agradecer, bondade, pensamento positivo e escrever sobre o melhor de si, apesar de apresentar efeitos benéficos em alguns componentes do bem-estar subjetivo para o grupo intervenção, também foram observadas alterações no grupo controle, o que limita o alcance desta intervenção (Suárez e Marrero, 2020). Outros materiais digitais proporcionaram aos alunos o gerenciamento da sua adaptação de forma mais adequada e uma melhor regulação das suas emoções (Moreno-Fernandez et al., 2020).

 

3 DISCUSSÃO

Esta revisão de escopo identificou as intervenções disponíveis para universitários que abordaram a inteligência emocional. Foi observada uma grande variabilidade entre as características das intervenções, considerando os anos das publicações, os países de origem, o tipo de material utilizado, e a forma de aplicação.

Vale ressaltar que em 1995, deu-se início aos estudos da inteligência emocional com Salovey e Mayer, seguido por Gardner em 2000 e Goleman em 2011 (Telaska e Minho, 2022). Mesmo possuindo um histórico de estudiosos que construíram suas teorias fundamentadas nessa temática, nem todos os estudos aqui elencados utilizaram esse embasamento, trazendo em contrapartida outras teorias para sua intervenção.

Em relação aos estudantes universitários, considerando que alguns aspectos específicos da vida universitária podem se constituir como fatores de risco ou proteção para a saúde dessa população (Ariño e Badargi, 2018), e que as competências e habilidades emocionais são um preditor do bom desempenho acadêmico, estratégias de enfrentamento adaptativas e bem-estar (Extrema e Rey, 2016), ainda pouco é falado da importância da inteligência emocional desta população. Os dados apontaram que a temática começou a ser trabalhada há mais de uma década, com um crescimento exponencial nos últimos três anos em países asiáticos e europeus, e uma escassez desse tipo de abordagem nas demais regiões do mundo.

Vale ressaltar, que muitas condições de sofrimento mental poderiam ser minimizadas se os profissionais de saúde tivessem um olhar cuidadoso sobre a importância da saúde mental e dos fatores que as influenciam, com o objetivo de propor estratégias eficazes de acordo com cada contexto (Bittencourt et al., 2018). Em relação aos resultados, observou-se que mesmo com uma ausência de padronização entre as intervenções utilizadas - como tempo de exposição, número e forma da técnica proposta, e especificidade do período que o universitário se encontrava, foram encontrados desfechos promissores dessas intervenções na saúde mental dos estudantes, evidenciando que o tempo de exposição não interferiu nos resultados, mesmo frente à variabilidade de intervenções propostas.

Isso aponta para o fato de que, apesar de estudos proporem intervenções de exposição a longo prazo para examinar o efeito positivo sobre bem-estar e saúde dos jovens ao longo do tempo (Schoeps e Barrera, 2019), intervenções que abordem apenas uma técnica e tenha um período menor de exposição pode gerar impacto positivo na saúde mental de universitários. Tal achado pode ser um gatilho para a realização de novos estudos de intervenções de curto prazo que objetivem contribuir para a promoção da inteligência emocional com esse público.

Em relação à variedade de técnicas, quando se têm diversas opções pode haver uma maior adesão do público envolvido no estudo, já que poderá ter maior chance de o participante se identificar com uma técnica, tendo maior possibilidade de adesão ao estudo. No entanto, o uso de várias técnicas torna os resultados menos específicos, como pode ser observado nos estudos elencados (Cechini et al., 2019; Karahan e Yalcin, 2019), já que eles trazem o resultado em conjunto, não sendo possível afirmar se determinada técnica isolada traria o mesmo efeito, ou qual delas teve maior efeito sobre a inteligência emocional, tornando necessário mais pesquisas para determinar quais tipos de intervenções melhor se adequa aos universitários de determinado período, tendo em vista o contexto vivido por ele, a fim de otimizar os seus efeitos e explorar o potencial dessas intervenções.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi possível observar estudos que apresentam intervenções com diferentes características, desde o tempo de exposição, número e forma da técnica proposta, no entanto, todos tiveram desfechos positivos. Evidencia-se que a maioria deles não apresentou uma teoria na sua fundamentação teórica e não considerou o período em que o universitário se encontrava.

Os resultados apontam para a necessidade de se elaborar novas propostas de intervenções que abordem a inteligência emocional para universitários, com o objetivo de mitigar lacunas existentes e abordadas identificadas nesta revisão, e proposição de intervenções padronizadas e eficazes.

 

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